

Nos últimos dias, a incerteza sobre a economia dos Estados Unidos tomou conta dos noticiários, com o risco de uma recessão à vista. Após quedas nos mercados financeiros e a adoção de políticas econômicas mais rígidas, como o aumento das tarifas comerciais de Donald Trump, muitos se perguntam: como isso pode impactar o Brasil e o resto do mundo?
O que se tem observado é que os EUA, a maior economia global, estão atravessando um momento de desaceleração. O governo de Trump, que assumiu a presidência em janeiro, anunciou recentemente tarifas comerciais mais altas para países como China, Canadá e México. Além disso, ele tem promovido cortes em setores públicos, com o objetivo de reduzir os gastos do governo. Essa postura gerou um clima de ansiedade, especialmente após uma entrevista onde o presidente não descartou a possibilidade de uma recessão, chamando o período atual de “transição”.
Embora alguns economistas acreditem que ainda não há um risco iminente de recessão – um evento que, normalmente, é caracterizado por dois trimestres consecutivos de queda no PIB – o fato de os EUA terem passado por um crescimento robusto nos últimos anos e ainda manterem um mercado de trabalho aquecido mostra que a economia americana não está totalmente fora de perigo. No entanto, o clima de incerteza pode afetar a confiança dos investidores e impactar diretamente a economia global.
Impactos das Tarifas e da Guerra Comercial
A adoção de novas tarifas de importação tem um efeito imediato: o aumento no custo dos produtos importados. Essa alta nos custos acaba sendo repassada para o consumidor final, o que pode pressionar a inflação. Se essa guerra comercial se intensificar, pode haver uma redução nas exportações globais e uma significativa mudança nas cadeias de suprimentos, afetando países com grande participação nas trocas comerciais com os EUA, como o Brasil.
Apesar de a recessão ainda não ser uma realidade, as projeções de crescimento da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) para os próximos anos já refletem um cenário de desaceleração. O Brasil, por exemplo, viu sua expectativa de crescimento para 2024 ser reduzida de 2,3% para 2,1%, com os efeitos das tarifas de Trump, especialmente sobre as exportações de aço e alumínio. A economia dos EUA também foi revisada para baixo, com uma queda projetada de 2,4% para 2,2% no crescimento do PIB para este ano, um reflexo direto do cenário de incerteza econômica.
Como o Brasil Será Afetado?

Para o Brasil, a recessão nos Estados Unidos pode ter uma série de consequências. O país americano é um dos maiores destinos das exportações brasileiras, especialmente de produtos manufaturados. Caso os EUA reduzam suas compras, o Brasil poderá ver uma desaceleração nas exportações, o que impactaria diretamente setores como o agronegócio e a indústria. No ano passado, o Brasil exportou cerca de US$ 40 bilhões para os Estados Unidos, um recorde histórico. Qualquer retração neste mercado poderia prejudicar a balança comercial e afetar a economia brasileira.
Além disso, a queda nos mercados financeiros dos Estados Unidos já se reflete em outros mercados ao redor do mundo. No Brasil, o Ibovespa, principal índice de ações, viu uma queda, e o dólar teve uma alta, como reflexo das incertezas globais. A expectativa é que, se a recessão se concretizar, ela pode atingir ainda mais os mercados financeiros e afetar o fluxo de investimentos estrangeiros para o Brasil.
Aumento da Inflação e Impacto no Preço de Produtos
A alta no preço de produtos no Brasil também pode ser influenciada por uma recessão nos EUA. Um exemplo disso foi o aumento recente no preço do ovo no Brasil, que subiu 15% em fevereiro, muito devido ao aumento das exportações brasileiras, que se beneficiaram da demanda maior dos Estados Unidos, onde a produção foi afetada por surtos de gripe aviária. Se a economia americana encolher, a demanda por produtos brasileiros também pode diminuir, gerando um efeito oposto: os preços caem, mas a inflação brasileira pode ser menos controlada devido à alta dos preços internos.
O Impacto no Setor de Exportações e o Varejo Brasileiro
Se a recessão nos EUA acontecer, um dos impactos mais imediatos no Brasil será sentido nas exportações de commodities. O Brasil depende fortemente do comércio com a China e os Estados Unidos para escoar sua produção agrícola e mineral. Uma desaceleração no crescimento desses dois gigantes econômicos pode impactar diretamente os preços internacionais de commodities como soja, café e carne, afetando o fluxo de receitas para o Brasil.
Além disso, empresas brasileiras que operam nos EUA, como a Embraer, Gerdau, e algumas do varejo, poderão sentir os efeitos negativos de uma recessão. O impacto não será apenas nas vendas, mas também nas estratégias de expansão, com muitas empresas reconsiderando seus investimentos e adiando planos de crescimento devido ao cenário econômico incerto.
O Futuro: Expectativas e Preocupações
Embora o risco de uma recessão nos EUA seja uma preocupação legítima, também é importante lembrar que os Estados Unidos enfrentaram recessões antes e conseguiram se recuperar rapidamente, como aconteceu após a crise financeira de 2008 e a recessão de 2020, provocada pela pandemia. A diferença é que, desta vez, o foco está nas políticas internas do governo e no impacto de medidas comerciais, que podem prejudicar a confiança do consumidor e dos investidores, desacelerando a economia global.
É essencial que o Brasil e outros países dependentes da economia americana se preparem para possíveis impactos. A queda nos mercados financeiros, os cortes nos investimentos e a inflação crescente podem ser apenas os primeiros sinais de um longo período de recuperação econômica. O melhor caminho para o Brasil será diversificar suas parcerias comerciais e manter uma estratégia de crescimento sólida, mesmo diante de um cenário global de incertezas.